GUAÍRA
Prólogo
Dessa idéia
que surgiu em compor essa obra, veio de um relapso que surgiu uma semana após
ter lido a obra de Machado de Assis – Dom
Casmurro. Passei a acreditar que poderia dar certo a partir da construção
do décimo primeiro Capitulo. Nesse dia, comigo estavam em casa, emprestados, as
obras de Manuel Antônio de Almeida – Memórias
de Um Sargento de Milícias e também a Obra de José de Alencar – O Guarani, nas quais me serviram de
muito incentivo e influência literária. Espero que agrade o leitor e venha a
prelo, pois sua intenção é de mais pura instrução e apresso. Nas linhas dessa
história me alojei com algumas passagens de minha vida, que embaralho com as
personagens de Machado de Assis. Acima de se tornar apenas uma trama de enfoque
ao tema do adultério, trata também da liberdade, seu maior antagonista.
1. O Salário
Os tempos não eram os
mesmos; Bem, e o resto...? A casa. Aquela, a mesma, de terras distantes, que de
a pé judiava até o encontro as camas largas. Capitu adorou as novas mudanças.
Sentia-se feliz, segura, longe das preocupações que lhe afligia. Bem-vinda a
Paraguaçu, anunciava as colunas sociais. Era a glória. Tempo de trens velozes.
As beiras vocabulários dignos. Longe daquele burburinho sem gabarito.
- Quem comprou esses pães de
queijo?
- São meus e para mim;
Sabia que não gostava, mas
como era do meu salário, mantive fiel a minha vontade de comer pães de queijo.
Não dei bola. Ao certo não sabia o porquê não gostava de pães de queijo; Nunca
imaginei alguém que não pudesse gostar de pães de queijo. Casmurras.
2.
O Aprendiz
Carississimo leitor. Ao amor
aos superlativos, qual falta fazia José Dias. Nas mesmas paginas de colunas
sociais, estaria ele, com a certeza, contente a noticia de nossa estada em Paraguaçu.
Jornalissisimo.
3.
Leonardo – Pataca
Dizer-te que não é de meu grado
dar telas a um paixonite de 320 réis e cotovelos ralos, mas Vade. Não vou
estampar meu olhar de piedade a concorrerte.
- Do que estas a dizer?
- Do ciúmes de sua piedade;
Doute a capa Sargento. E boa
viagem.
4.
Paraguaçu prospera
Houve que aprender o português
não se deve a mero escolher. Importa e bastante, leitor amigo. Convivas de boa
memória. Acentue esse investimento e aperfeiçoe essa idéia. Não devas aos
vizinhos a sua inércia. Até porque sua satisfação não pode ser medida. Da cena
na varanda o murmurinho foi grande aqui em Paraguaçu. Aonde
já se viu uma pouca vergonha destas. Nessa data, afirmo, nem pensava na carreira
de advogado. Para situar melhor a respeito de Paraguaçu, quando nasci nem
imaginava vir um dia morar aqui. E foi de lá da terra de Matacavalos que
surgiram os primeiros boatos da separação. Os primeiros boatos do autor e sua
personagem foram muito bem-vindos, pela criatividade literária. Paraguaçu,
nessa época acreditava mais que nunca que as leis eram belas, que cortar o mal
pela raiz é realmente o melhor remédio, e que pouco importa a infelicidade
alheia, se seus romances talvez não sejam assim tão bem sucedidos como se
cantam e dançam por esses lugares. Nossa maior dificuldade, sem sombra de
duvidas, era acreditar nesse amor sem regras e bem-sucedidos que convenhamos,
nem se passa perto interferir se ele realmente for verdadeiro. Para nós, daqui de
Paraguaçu, são estrangeiros, longe das nossas preocupações e cotidiano.
- Ezequiel, quão velho se
faz hoje?
- 9 anos, amor.
- Muito bem. Comportado!
5.
Aluguer
Cumprir com as contas
domestica; para Bentinho, era prioridade nos deveres de casa. Agradável como
sua narrativa. Capitu, quando possível colaborava com as reservas do Velho
Pádua. Digo dessa maneira, porque, em se tratando de dinheiro, era visível sua
semelhança com o pai, só faltava o chapéu. Os exageros que extrapolavam as
algibeiras agora refletiam na fisionomia. O resto, ainda sobrava para aulinhas
de inglês.
Bem ao certo, não sabia
exatamente da onde advinha seu salário. Ouvi esses dias uma conversa com prima
Justina ao telefone sobre maquiagem e cosméticos. Bem se sabe que agora existia
uma barreira entre o relacionamento de Capitu e prima Justina, até porque,
culturalmente, Paraguaçu e Matacavalos tinham certa distância. Mas minha
preocupação era realmente com o valor do Aluguer. O resto era história da
Carochinha.
Quanto às fontes que me provêm,
o leitor há de saber, pois Capitu sempre me atentava as faltas e manter olhos
atentos. Apesar, exploração indevida é crime. Prestação de serviços e
honorários deve ser devidamente avalizado; rentáveis.
6.
Oras Bolas
Pedia sempre a Capitu parar com
a mania de ajeitar meu penteado na frente dos outros. Deixei de usá-los
compridos a longa data, e essa mania dela me deixava intrigado quanto a minha
timidez. Hoje, vejo que o seminário
agregou valores importantes para o dia-a-dia. Perto de casa, os lotes de terra
que deixaram de ser meros terrenos baldios, ou cercados de plantação e horta,
passaram a ser estacionamentos de carros e obras e mais construções que não
param de crescer. Acredito no progresso, contando que ele contribua a Paz; pois
se encontrar eles nas linhas dos textos será muito mais fácil de compreender
justificativas. Apesar, o valor simbólico de um olhar a baixo ou um olhar a
cima, visa o horizonte como equilíbrio, e se você Capitu, não estiver, contando
desse momento, a distância suficiente para nesta vida encontrar seus lábios,
prefiro essas linhas deixar por escritas. Pois nesse instante os olhos irão se
vedar; A essa altura, seu nome venha a cargo, letra a letra;
7. As 25 e cinco
Embaralho “As”, e venho a
refletir política e democracia. Sancha a muito não nos tem dado noticias. Escobar
em sua ultima aparição fotográfica o vi treinando com suas luvas de boxe.
Adorava boxe. Época que remonta a recém formatura, sonhos de fortuna, junto de
Escobar a idéia de empresa, deixar os 30 dias de lado e passar de vida boa.
José Dias dessa época só lembranças da Sege. Sempre em frente ao escritório,
investigando a papelada e dando incentivo ao sucesso. Espero que tenha se
recomposto a criatividade, pois ela tem limite, é de A a Z; não Passadiço; e
bem recordo dos ciúmes nem as beiras das algibeiras. Minha relação com Capitu
nesse tempo vivia em discussões e ciumentas. Não vale muito a pena à lembrança,
até porque cavaleiro também caminha a pé. Não me venha de bons amigos,
francamente. Exigir um pouco pronto de quem vende prata falsa não é exagero
para elas que são belas.
- Ai meus pães de queijo.
- O que é?
- Nada!
8.
Virgulemos
Esses são campos que se
fazem às letras
Onde o vento sopra sem error
Educar é verdadeiro amor
Esses são mares que lhe quer
penhor
Nossos versos têm muito
valor
Educar é verdadeiro amor
Nosso hino cantemos em
louvor
As nossas virgens flores de
amor
Chamada querida Paraguaçu
Vinde a nós com mais bela
cor
Nossos versos têm muito
valor
Nem a Lua Poe neles error
Palavra forte, Terra e Guerra
No esporte seremos vencedor
Chamada querida Paraguaçu
Vinde a nós o vosso amor
9.
D. Glória
Minha mãe sonhava com a
prosperidade de Paraguaçu. Dizia “serão desses portos que essas terras vão se
fartar”. Seu salário desde quando éramos pequenos vinha das agências
ferroviárias onde trabalhou nos armazéns e se aposentou. Vislumbrava
transportes ferroviários modernos, interligando as principais cidades de
Paraguaçu. Com Tio Cosme dividia seus desejos de prosperidade de Paraguaçu. Quando
gritava “Mamãe, Mamãe”, ela respondia, “Tubarões, Tubarões”; conselhos dela.
Não farei esquecer.
10.
Viagem a Portugal
As caricias de Paraguaçu era
vasta. Seus relevos, planícies, montanhas, fortes córregos e majestosa
natureza. Sua civilização modesta, encabrunhada mata adentro. O Canapé em
frente de casa, sempre que possível calculava interesses. As consultas ao pai
dos burros sempre me fazia dividir com Capitu minhas dúvidas esclarecidas. Era
minha segurança quando usava seus braços de fora. Segredo por segredo, comprei as passagens com
antecipação e as reservas estavam todas prontas. Cheguei em casa animado com o
sucesso e não via a hora de dividir com ela o itinerário.
- Mona, não advinha o que
descolei?!
- Um novo emprego!
- Não! Uma viagem para
Portugal.
- Mentira!
- Verdade!
- Pra quando?
- Novembro!
- Sério!? De verdade?!
- Juro! Veja só. Com tudo
incluso. Viagem de ida e volta, com estadia inclusa, café, almoço e jantar.
- Não exagera!
- Nessa cidade, Coimbra, nasceu
D. Sebastião – Rei de Portugal.
11.
Pastéis de Belém
Não quero lhe encontrar
perdido por essas páginas, caro leitor. Se fartar em gargalhadas em Debuxo Colorido
não é nenhum pouco consideração de amizade, nem muito menos respeito a quem
quer que seja. Minhas mágoas não irão se afogar em herdeiras conquistas. Viver
vale muito mais a angustia da vitória ou uma glória de meras aparências.
Destaco aqui nessas páginas uma receita para os momentos viveiros infortúnios,
e que eles sirvam para sua reflexão a um famigliare
momentus.
- 500 gramas de nata;
- 9 gemas de ovos;
- 10 colheres (sopa) de
açúcar;
12.
Usar e Abusar
- Carece de relevância os comentários de
Ezequiel nessa noite, tu não acha Capitu?
- Idéias sem pernas, idéias
sem braços.
- Um Protonotário
Apostólico?
- Não pra tanto.
- Um
Fausto Bittencourt!
- O que é
Um Fausto Bittencourt?
- Fausto
Bittencourt é um Fausto Bittencourt, oras bolas. Só explico quando me explicar
o que é um Panegírico de Santa Mônica.
- É uma Inscrição,
irrelevante.
-
Relevantississimo.
13. Leia a Bula
Estar vestido, para alguns é
uma tarefa um tanto quanto exigente, para muitos é um hábito mais que natural,
ou seja, explicando, para poucos as roupas são duráveis, para muitos não. No
corpo ou fora dele, isso não importa. A mania de dormir sem elas aqui em
Paraguaçu é muito raro, pois o clima é frio quase o ano todo, diferentemente da
casa de Matacavalos, por lá, clima tropical, agente se sente mais a vontade.Fato
é que vestes é um veiculo importante e extremamente distinto socialmente.Não
preconceituantemos onde não existir a regimenta, ou seja, fora do parlatório.
14.
encabrunhadas
Na rua, sempre existe um
herói; geralmente que odeia televisão, mas ama velocidade; Não se entende
mesmo. É como o mendigo do Portão; Não sabe se usa chapéu porque o Sol é forte
ou se o Sol é forte porque ele usa chapéu. Talvez as aulas de aritmética possam
esclarecer melhor minhas dúvidas. Vamos entender tudo isso. Porque ninguém é
desinibido a tanto extremo há comedia. Uma cultura comedida em algum lugar nos
indica certa indiferença. Convivamos com
alegria, não com ironia. Não acredito em Imposição Cultural.
Quem nela acredita, sinceramente recomendo melhor
flexibilidade de idéias. Não me esqueço das criticas de Capitu a César, nem por
isso tiramos das paredes os medalhões, que decoram nossa sala de jantar. Por
mais que se distraia em precipitados julgamentos, é uma eximia curadora.
15. A
amizade de Duda, Victor, Julia e Vicius
Duda era recente na turma.
Dia desses da discussão de Victor com Vicius sobrou à atenção de Tio Cosme para
que a situação não se agravasse. Vicius abusou das cobranças direcionadas a
Victor e as brincadeiras passaram a serem mais sérias. Comemoraram aniversário
juntos nesse ano; apesar dos dias serem próximos, a diferença era de
aproximadamente cinco anos. Estava eu há completar trinta anos, quatro meses
próximos. As idas e vindas de Matacavalos a Paraguaçu eram freqüentes, e
algumas confraternização que saiam com sucesso era a felicidade para D. Glória,
como o ultimo natal, onde todos estavam presentes, também no aniversário de
Victor e Vicius, que seu irmão esteve presente. Capitu gostava a casa cheia,
mas não suportava surpresas sem horas. O calendário era repleto de bexigas,
língua de sogra, chapeuzinhos, beijinhos e brigadeiros. Julia e Victor nessas
férias passaram as encabrunhadas. Victor era tímido, e Julia desmiolada e volte
e meia aos corredores se pegavam em segredinhos. Quando
Victor quebrou a vidraça com o skate, sua fisionomia já
esperava as represálias. Tio Cosme insistiu por justificativas da vidraça
quebrada; não quis aceitar um acidente tão logo. A inquisição não chegou a ser
tão recriminativa que justifique o desaparecimento de Victor desde esse dia.
Imagino que seu retorno venha com o Shopping Center junto e com as criticas as
novas cuecas de Vicius. Victor gostava de goiaba e Vicius de melão, Julia de
ballet e Duda de picolé.
16. A
mais linda seta do seu arco
Existem momentos que exigem
demonstração de coragem, decisão e liberdade. Vi no ajeitar de Capitu as penas
de seu cocar voltar-lhe as forças a sua marcha através da floresta. Me senti
como um índio que esgotou todas as flechas de seu arco e nesse momento qualquer
que fosse meu pensamento, os ciúmes me corria por entre as veias. Qualquer que
fosse a intenção de concentração as vistas se tornaram embaçadas. O escritor
que não se atira ao jogo com temor de pobre canto, se compraz com o campo
grande e um personagem pacato, solitário e triste. "Dom
Casmurro, domingo vou jantar com você."--"Vou para Petrópolis, Dom
Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho
Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."--"Meu caro Dom
Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na
cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça."
17. Lembranças de Matacavalos
Cavalheirismo vem de berço.
Há quem defenda essa tese; porém, refletindo a respeito de certo adjetivo,
prefiro deixar as portas fechadas. Saulo foi convertido há caminho de Damasco,
logo após passou a ser chamado de Paulo. De perseguidor de cristão, passou a discípulo
e apostolo. Há também quem faça analogia com nossos tempos com essa história
que ocorreu na Líbia, mas exatamente na Síria, séculos atrás. Prefiro lembrar
meu travesseiro que deixei esquecido em uma parada no caminho que liga
Paraguaçu. Se alguma linha mais for necessária para aquele que foi o Salvador,
que fique dedicada a Paulo de Tarso. Fica a alerta ao ditado, quando não puder
com o inimigo, não junte-se a ele, nem divida com sua companheira suas aversões
e acusações sem convicções. Paulo foi marido de Abigail, irmão de Dalila, que
se relacionou com Estevão, que foi perseguido pelos homens de Saulo, que tinha
descendência de família nobre da Itália. Quando passou a viúvo, manteve-se na
fé cristã. Foi canonizado e santificado.
18.
Hoje
José Dias, se por aqui
estivesse acho que mereceria uma promoção. Brincadeiras a parte, antes de
ontem, quem se recorda, merecia um altar. Hoje, estaríamos todos reunidos naquela
cena tradicional de família recordando os momentos felizes e outros nem tanto,
revelados nos álbuns de fotografia. Chega a ser pavorosa as recordações que nos
atiram com a memória falha, e pior, esse maldito recurso que inventaram, ficam
martelando na cabeça. Capitu tinha uma máquina fotográfica, se sentia no céu
quando conseguia capturar boas imagens. Certa feita conseguiu capturar uma
imagem de um casal de virgulinos do pantanal bem no momento do acasalamento.
Fiz questão de retratar e deixar como decoração na minha mesa de escritório.
Pássaros são realmente admiráveis; belos e livres.
O mito da caverna de Platão
descreve a reflexão do homem através de uma caverna onde o sol adentrava por
uma fresta. Filosoficamente relevante uma analogia a condição humana, o homem e
o tecnocinismo moderno. Apesar, o agora de Atenas também me trouxe a refletir a
relatividade do tempo, do viver e do pensamento humano.
Cheguei a casa, abri a porta
devagarzinho, pé ante pé. Busquei uma xícara de café e tomei. Jantei fora. De
noite fui ao teatro. Escrevi dous textos. O primeiro queimei-o por ser comprido
e difuso. O segundo continha só o necessário, claro e breve. Não lhe lembrava o
nosso passado; nem as lutas havidas, nem alegria alguma; falava-lhe só de
Escobar e da necessidade de morrer.
19.
Moeda corrente
Reinando a febre novamente
por essas terras, uma medida foi adotada como uma alerta as imoderadas relações
da corte. Passou à vigência de unidade de medida monetária o Joule, Britsh
thermal unit. A adaptação foi uma forma definitiva adotada nas relações mercantis
com os cidadões de Matacavalos, que dificilmente aceitavam as proporções
adotadas. E uma posição de sustentabilidade, independência e identidade
nacional de Paraguaçu. As moedas em Paraguaçu passaram a serem impressas na
progressiva 3, 6, 9, 13, 16, 19..., e J#3 equilavia a R$1,25. Quando alguém
queria desmerecer a cultura literária de alguém em Paraguaçu, usualmente se
dizia “esse tem joules no bolso”, pra ser razoável, frase adotada pelo agregado
que se tornou comum por esse espaço.
20.
O Interprete
Conheci um rapaz que
entendia tudo, sabia tudo, não vacilava nem um instante se quer diante de
qualquer questão. Perguntei lhe o nome, não demorou muito, com orgulho e
respiração pausada respondeu “- Flautim”. Lindo nome, respondi. Sempre o
encontrava na Estação. Você gosta de música, questionei. A vida é uma ópera e
uma grande ópera, respondeu. Não surpreendi sua maneira, tinha o dom de se
fazer aceito e necessário. Senhor, não desaprendi as
lições recebidas, disse-lhe. Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror
à graça. Por hoje, Bentinho, Bentinho, por favor. Calei. Olhei o relógio
inquieto. Fortunata e Glória estavam demorando. Combinamos na Estação quinze
para as três. Fitei novamente o cobrador e lhe inquiri as horas. Faltavam
quinze minutos para as três horas. Tomei o trem.
Confesso que senti graça ao horror ao ler de
atropelo o ultimo periódico do Jornal A Estação. Na capa o velho Flautim,
diferente do tempo que lhe conheci ainda rapaz, sempre a sua maneira, opinando
e sempre alegre contente nos comentários que lhe faziam matéria. Era um Porto.
21.
No cerimonial
No dia programado para a
cerimônia de inauguração de Paraguaçu, os convidados fizeram presença. Assumia
as honras de Prefeita D. Maria de Albuquerque e Santiago. Gravado em cobre em
praça as honras em mérito aos eleitos. Ao lado esquerdo a guarda ao lado direito
a banda.
Não falto descrever como
estava caprichosa Capitolina nesse dia. Inteira coberta de branco por um
vestido rendado com bordas em detalhes floridos. Exibi-lhe um beijo seguido de
elogios todos.
Estava a anoitecer; Ao fundo
a primeira estrela cintilava, a bandeira azul e branco estendia-se com a
ondulação do vento após ser hastiada com o cantar do hino.
22.
Socialismo gravitacional
As pirâmides egípcias me vieram à idéia como
forma empreendedora, apesar, como será que nos tempos dos faraós funcionavam as
relações comerciais, alguém será que já pensou sobre isso? Hermes trimegisto
dizia que aquilo que está embaixo é igual ao que está acima.
Tal pai tal filho, filho de
peixe peixinho é, cara de um fucinho de outro, esses são alguns ditados
populares que me fizeram relembrar; dúvidas sobre dúvidas. A maior parte do meu
tempo dividia com as tendências capitalistas, e preocupações climáticas.
- Como tem andado Bentinho?
- Não me incomodam as pernas
caminheiras; De sobra, como bem e não durmo mal;
Cury
era um médico da região; sempre atencioso com todos que conhece. Desconfio dos
seus exageros. Não devo tanta bondade de sua gentileza. Lavo minhas mãos a
pretensiosa gratidão.
Descrevo minhas pretensões
comerciais fortuitas aos visionários globalizados, talvez se Isaac Newton,
Thomas Edson, Galilei Galilleu, e demais não houvessem compartilhado suas
descobertas e invenções, um regionalismo mais socialista seria possível.
Não desmereço minhas
relações sociais hoje em casa; apesar da família apresentar considerações de
convívio, e de anteriore, naturais, minha
reclusão a essas páginas ainda refletem a um adendo de agradecimentos.
Quanto insistente desconsideração de Capitu ao
seminário, ainda dividia com ela aquela personagem meiga enamorada de seu
vizinho Dom Casmurro.
Na missa de ultimo domingo,
nossos pensamentos foram, como posso explicar; sincronizados; seria a palavra,
sabe quando os pensamentos estão direcionados um para o outro em um objetivo.
Então! Nos sentimos assim unidos como um só. No horário acertado nos
encontramos e nossas verdades se uniam no amor que sentíamos. De seu olhar pude
perceber como se sentia feliz em estarmos ali. Sem palavras necessárias para
justificar, simplesmente estar; juntos, legais e bonitos.
23.
Visitas
A imponência de uma
estrutura urbana predial em primeira vista não revela sua prevalência aqueles
que advem dos campos, mas são torres que escondem a formula primeira dos
engenhos, a preservação das artes arquitetônicas e os rascunhos dos poemas
belos. A porta é mais que uma forma de madeira que o tempo corroe pelos cupins,
simboliza uma divisória que se enquadra nos detalhes decorados nas paredes.
- Sejam bem vindos.
- Fiquei deslumbrada com a
decoração.
- São originais.
- Imaginei.
- O que achou? Moderno?
- Meu filho iria adorar esse
espelho.
- Sentem.
Para o jantar esperávamos um
casal de amigos que vinham do interior para uma semana de negócios em Paraguaçu,
então fizemos um pedido de pizza. Julia era irmã de Vicius, que faziam questão
em tragar seus fumos de fidalgo atribuídos por seus pais na varanda.
24.
Ta raso, Ta fundo
Era importante pra mim que
nas férias pudesse ver o mar. Apesar de não ser devoto de Nossa Senhora
Aparecida meu amor ainda lhe era fiel. No
quarto, desfazendo a mala, me veio a lembranças daquelas palavras “Tu serás
feliz, Bentinho” que surgiu interiormente como uma luz de esperança. Nada é
mais dolorido que as barreiras do ciúme. As dez libras de Capitu me fizeram
enxergar galho na cabeça de macaco. Por mais que evitasse demonstração de me
sentir seguro com relação as minhas dores, não me impedia espiar sua distração.
È camarão isca de peixe; peixe isca de tubarão; Está embarcação não está à
deriva, e nem é este um naufrago marinheiro de primeira viagem. Eu já disse que
era poupada; ou fica dito agora.
25.
Até o Padre entrou na Paróquia
Está não era uma cena que
intencionalmente deveria surpreender Capitu. Mesmo porque o cenário foi de improviso;
dos ensaios, passei a peça. Ninguém guardava que Capitu nesse dia escondesse
tamanho rancor de minha pessoa. Foi pega aos prantos na frente de todos; uma
platéia de admiradores. Desajeitado, não soube o que fazer com os insultos que
me dirigiu. De certo alguma coisa a convenceu que estivesse a enganando e não
consegui me explicar. Pedi para que tivesse calma e se recomposse e nos
explicasse o que lhe afligia. Ninguém sabia me explicar o que estava
acontecendo. Não era característico de Capitu perder o controle dessa forma.
- Não me venha com conversa
Bento Santiago, esses ensaios estão muito mal explicado.
- Parece uma adolescente;
- Pareço, mas não sou. Sou
mãe e você deveria ser homem suficiente digno de respeito às horas que chega.
- Há que devo exigente
pontualidade?
- Ao meu respeito.
- Sou livre Capitu, quero
que você entenda isso; livre desse seu amor que me quer ingrato. Se quiser dele
minha dignidade, se levante e me mostre de verdade essa coragem.
- Quer que vá embora?
- Quero sua compreensão ao
meu esforço e dedicação, não seu desmerecimento.
Decorei meu papel, desatento
leitor, e espero que tenha desempenhado;
26. Bentinho
O melhor companheiro de
Bento Santiago com certeza era seu codinome Dom Casmurro. Minha excessiva
preocupação em se tornar agradável é uma mania de minha personalidade.
Desajeitado, sempre sinto que alguma coisa está faltando; não justifico como
timidez, acho mais é uma mania perfeccionista, que talvez nem todos tenham. As
amizades eram de data recente, os antigos foram todos estudar os campos santos.
Família sim, sempre; abaixo de Deus,
acima dela somente os livros. A aparência não engana, mas pode esconder o que
existe no seu interior.
27. Memórias de Leonardo
Um ícone da policia de
Paraguaçu; observações sempre discretas e relevantes. Notável, sempre sabendo
se fazer presente. Particularmente sinto privilégio em poder contar sua
intimidade pela afinidade que o tempo nos faz. Pude contar certa feita, com
suas considerações a respeito das influências que se faziam infiltrar na
sociedade de Paraguaçu. O descaso as autoridades militares estavam invadindo os
noticiários locais e a sociedade civil passava por um abalo de valores,
costumes e regras. Leonardo considerava uma questão de tempo a adaptação de um
modelo de segurança, que a influência na qual me referi era rígida,
desprezível, mas eficaz.
28. Quando?
Bens duráveis e não perecíveis;
até que ponto tem importância sua desintegração. Uma gravata guardada no
armário, no cabide junto de um paletó pedia a uma iniciativa. Também aguardava
meu animo os vasos e canteiros da casa. O inverno castiga; ainda mais com
geadas freqüentes. Talvez pudesse existir uma outra na história, com fantasias
e mascaras caída; mas não era. Um muro punha seu lado ingênuo. É a mesma. A
diferença me deleita em uma cama solitária. Perto, longe, o que nos separa? A
lareira pedia lenha na sala de estar; Gostava me valer pelas camisas guardadas
de época, que me serviam ainda para experimentar um olhar de descaso, pois essa
mesma guardava ainda o perfume do tempo que detalhes não faziam questão. Um
sapato, um relógio, como se diz, assim todos se entendem. Um lenço trazido ao
bolso; o fazer confortar as pessoas que nos falta. Talvez por aqui não
estivesse se tomasse atitude de um terno ao invés desses panos que jardino no
quintal. Um ramo de rosa; um pé de pitanga e as folhas deixadas do outono
preenchem à tarde. Do jardim a lareira; as lenhas trazidas e postas.
29. Os outros
Ninguém mais que possa
consolar, foram todos embora. As cordas todas desafinadas, o acorde difícil e o
deixa pra lá. Espalhafatoso, exagerado. Muita gente falando ao mesmo tempo. Uma
janela que me socorre; esse piano é meu, esse lugar é meu e essas saias são
minhas. Saias rodadas, saias já. Ninguém que me faça entender a diferença entre
mim e você. Pedi foi um copo de água, ninguém que me pudesse atender. Infantaria, covardia. O adultério e o vivo só.
Copos todos espalhados sobre a mesa. Pratos todos deixados pra depois. Enfim, o
copo d’água.
30. Afirmando
Entendo o que quer me dizer
Victor amigo. Dirigi-lhe a palavra; um conselho sincero. Mas deixe pra depois,
pois a festa acabou. Por mais que insista em convencer, ainda assim não vai me entender.
Somos assim, e não serão elas que irão nos vencer. A televisão não pega, não
adianta insistir, nem o computador, nem o processador. Depois da ultima
tempestade o circuito pifo. Vá cuidar em hortar, aprender a plantar. Só não
caia no rio se não souber nadar. Há quem não acredite nos outros e quem não
acredite em si mesmo. Em nenhuma delas acredito, mas sim, em quem chegou até
aqui. As estradas da vida são muitas, nele muitos ensinos. Linhas curvas,
linhas retas. Guarde suas descobertas ou compartilhe, tanto faz. Refazer uma
nova estrada ou consertar uma já construída. Novos amigos, ou velhos amigos. E
por fim, aproveitando ainda sua atenção, lhe afirmei, o caderno é um confidente
fiel.
31. Duda
Na casa de D. Glória existia
um quartinho que me servia de abrigo. Ali conheci Duda, meio a bagunça, que eu
insistia em organizar.
Duda era uma catadora de papel. Sua história se passou a
turbulenta servir devido a dramática cena envolvendo um fonógrafo da casa de uma
importante família de Paraguaçu. Ana não queria deixar importante relíquia de
luxo nas mãos de empregados. Seu marido Amâncio fez questão em exaltar que
somente seu filho Antero colocaria as mãos no aparelho. Antero não abdicou do
fonógrafo. Antero trabalhava junto com Libório em uma loja de tecidos, não
muito longe dali.
Eram umas cinco crianças,
todas sem idade definida. Podiam ter cinco ou oito anos, quatro ou sete, dois
ou quatro, já que, entre os miseráveis, o crescimento mental e físico é
desigual e incoerente. Não se distinguiam umas das outras, senão pela roupa
surrada, feminina ou masculina, e pela pena e dentes sujos, que se advinham
mais do que se viam.
No entanto, havia entre elas
uma jovenzinha que repontava pela natural beleza. Sob a sórdida aparência de
desleixo, os olhos muito claros e os cabelos anelados dominavam a figura. Os
seios transpareciam pela blusa apertada e surrada e as pernas se adivinhavam
perfeitas da saia que estava um tanto abaixo dos joelhos.
Não se afastara da porta,
nem se impressionara com o furor de Libório. Parecia hipnotizada pela musica e
caminhou, vagarosamente, em direção ao fonógrafo. A menina chegou perto do
aparelho.
- Procura alguma coisa? –
Perguntou Antero.
- A música – falou a menina
inebriada – De onde vem?
- Deste disco.
- Para ter a musica é só
preciso ter esse prato preto? – Perguntou a jovem.
- É, a música está gravada
nestes sulcos – comentou o rapaz. Tomando de um disco e mostrando a jovem.
Inesperadamente ela tomou o
mesmo de suas mãos e correu para a saída.
- Peguem-na – gritou
Libório, cuidando tanto da gramática como da repressão.
- Corre, Duda! – gritou um
dos garotos.
Apesar da surpresa e
agilidade, Antero viu-a ser apanhada alguns metros a frente, por um rapaz que
passava.
Surpreso e lívido, Antero
não quis chamar a policia. Estava curioso. Queria saber tudo sobre aquela
menina chamada Duda.
32. Voltamos ao título
Meu primeiro salário foi
algo muito valioso para Bentinho Casmurro; ir ao empório e escolher ninharias. Um
dever amaríssimo e saudável. Meus dotes
culinários não eram lá muito de elogios, mas já havia adquirido certa
experiência. O segredo é medir elogios e colher criticas sinceras. Agradar
paladar não é tarefa das mais fáceis. Minhas aventuras na cozinha, segundo
Capitu, foram sempre bem sucedidas. Menos mal. É o suficiente. Eu também não
desmerecia minhas preferências. A tradição dos produtos nos transfere certa
confiança, mas essas embalagens modernas são tentadoras e são verdadeiro
chamariz de consumo. Vale o bolso a analise.
33. honra
É desejo de todo homem de
palavra acrescentar adjetivos, pra não cair na egoística armadilha das
aparências. Colecionar medalhões e troféus nos distancia da simplicidade do
mérito. Mudar a didática talvez nos faça caminhar juntos seguindo os exemplos
sinceros de quem não se ouve o sorrir. Talvez porque estivesse guardado singela
fisionomia para os momentos mais santos dos sábios, ou mais sábios dos santos. Em
um dia de abril, eu fiz uma questão. Questão em descobrir as mais belas dúvidas
do amor. Uma voz repentina: “Desce daí”.
34. A igreja
Encontrei uma forma em
descrever a aurora que se compôs no céu na minha caminhada na ida a igreja.
Dizer que nunca fui muito de acreditar em coisas transcendentais, mas as
pessoas me convenceram que fosse um tanto quanto místico. Acredito que somos
vegetarianos, apesar de ter sido formado em uma sociedade em excesso carnívora.
Em um livro que adquiri em uma livraria com o dinheiro que tinha no bolso, o
autor não desmerece uma cultura da beleza, mas que para alcançarmos devemos
transpor barreiras que ainda se fortalece em nossa natureza.
A igreja era de arquitetura
moderna. Não tinha exagero de detalhes, ficava na rua de trás, não era a da
frente. Duas vigas suspensas com mais uma sustentada e no fundo uma floresta
repleta de pinheiro e mata. Exatamente confortável, sem se sentirem apertadas,
cabiam quatrocentas e sessenta pessoas sentadas, mais duas de pé, e mais sete
no tablado. A caixinha terminava no lado direito inferior. No caminho tinha uma
pedra, tinha uma pedra no caminho. A chave errada não está guardada nas linhas
desse livro.
35. Talvez
A persistência da dúvida acho
que nos coloca em determinadas situações como péssimos professores, fiz essa
questão a Capitu. Ela me respondeu da seguinte forma: “Quem sabe”. Boa
substituição, falei a ela. Melhor seria se bem pontuada. Você não se lembra?
Ela me perguntou. Do que? Lhe respondi. Da sua primeira vez! Perguntou. Eu me
lembro. Respondi.
36. Nos querem bem Capitu
Não havia problema algum
desfrutar das noites de Paraguaçu. A lua quando agradável é uma ótima opção
para exaltar os ciúmes da sociedade de Matacavalos. Essa concorrência estava se
tornando um tanto quanto desleal, e provocando reações adversas
para uma disputa equivalente. Luzes ao esporte, é o que a
noite de Paraguaçu queria, e deixar claro para seus rivais que o uivo do lobo
nos protegia das suas investidas a nossa insônia. “Dom Casmurro, essa noite
vamos ao clube. Dom Casmurro, não perca de assistir o jogo essa noite. Dom
Casmurro, vê se deixa essa caverna do Engenho Novo e venha passar uns quinze
dias conosco.”
Existe uma
margem que divide território, esclarecendo e confortando bem a leitora. Essa
margem está exatamente no impedimento que existe em esse livro estarem em suas
mãos, ou onde leva ele até suas mãos e entendimento. Bem ao certo,
geograficamente, Matacavalos pertence ao mesmo território de Paraguaçu, mais ao
norte, Paraguaçu mais ao leste.
Para uma
noite agradável, uma excelente companhia. Nada poderia estragar nosso momento
juntos. Nem barulhos desagradáveis, nem as luzes, nem pessoas, nem o que quer
que fosse. Perfeito, como planejamos. Um brinde e uma boa noite.
37.
Amanhecer
O sol ameaçava as primeiras
investidas, percebi pelas frestas da persiana, mas sem coragem de levantar,
voltei a chochilar e só realmente me vi desperto quase próximo do horário do
almoço. Capitu levantou primeira, insistiu para que tomássemos café juntos e
fizéssemos uma caminhada que queria me mostrar. O Sol já havia se mostrado ao
todo, as nuvens deixadas para trás. O vento discreto batia nos cabelos de
Capitu, deixando seu rosto mais belo, contente, me mostrando o caminho e
falando daquelas ilhas que tanto lhe encantava. Não queria lhe interromper, mas
lhe lembrei que precisávamos almoçar e estávamos distantes onde hospedávamos.
Descemos mais algumas quadras até a loja de tecidos, comprei um vestido que
gostou e não atrasamos para o almoço.
38. O engenho novo
A intolerância do engenho
novo é uma engrenagem que guarda todas as histórias de amor do mundo. Não
entendeu. Explicando. É a precisão. Um espaço geográfico que engloba toda
tecnologia da comunicação, que habita Fausto e Ford. É a complexidade de um
veiculo sem bagagem com a leveza de um ultraleve. É os versos de Dom Casmurro
jamais revelados, escondidos no segredo de seu denominador secreto. É a vinda da cidade. O joule, o salário e o
transporte. O motor, o trabalho e a indústria. O modelo T produzido em série em
1908. O rato pensando o homem. Um paraíso de São Lourenço e o caminho de
Dallegrave.
O que mais abarca o engenho
novo é o limite de uma ponta de lago com a varanda de um Mansur e sua teoria da
torre de xadrez. As reformas de Garibaldi em um sentido, ou os sentidos da
reforma de Garibaldi, que só vai e não vem mais. As Bicicletas da Ceci, os
skates de Victor e as esquinas de Folloni e Queiroz. As 250 peças de Otelo, que
eu nunca assisti, mas ouvi falar algumas semelhanças.
O engenho novo não era só
isso, havia também muito interesse. O aprender a ler. O desuso e as páginas
caídas às solta precisa sempre de uma nova impressão. Desde o tratado de faber
de Paraguaçu, talvez, ou quem sabe, o Engenho Novo passasse a pratica de suas novas
invenções.
39. Tudo a ver, nada a ver
Foi contado depressa, não
deu pra entender direito, mas deu pra perceber que alguma coisa tinha
compreendido, e lido; mas não entendido. Tio Cosme não tinha nada a ver com o
velho Pádua. Tudo a ver sim que o José Dias era o agregado, a casa comportava
sua hospedagem, a pedidos de D. Glória. Gurgel era pai de D. Sancha, pra quem
chegou até o Capitulo. Ganhou na loteria pela segunda vez quem descobriu o
mistério da boceta de Pandora. D. Glória não era chegada de Fortunata. Escobar
era de família de Curitiba e nos conhecemos no seminário. Merece uma releitura.
Manduca era meu vizinho da casa de Matacavalos e minha mãe tinha uma casa na
rua da glória em Itaguaí.
Meu namoro com Capitu começou quando tínhamos 14 para 15 anos
e toda a história se desenvolve nessa época e nosso envolvimento nunca ouve
interesses materiais, maiores que o nosso amor.
40.
Quarenta e cinco minutos
Foi o tempo que levou pra
chegar até aqui bem entendido, com tempo de sobra e disposição. Senti o dever
comprido do todo empenho dedicado aquela prova de língua estrangeira. Confesso
que não foi fácil, no inicio não entendia nada, foi me dando um nervoso,
parecia que todos estavam atentos ao meu despreparo. Foram alguns minutos com a
caneta tremula nas mãos para caçar as primeiras palavras que me descem
segurança. Grifadas, aos poucos fui conseguindo entender melhor do que se
tratava, dominando o assunto, fui dando seqüência as novas descobertas que me
davam confiança para pelo menos ter certeza que poderia concluir o teste;
“everywhere in the world”; concluir e porque não acreditar que poderia vencer a
insegurança e passar a uma nova fase. Não entendi foi nada, mas deu pra
disfarçar. Fica entre nós.
41. Pluralismo divertido
Continuo insistindo em
narrar essa fase de colégio, que deixei passar em outras oportunidades. Capitu
surgia sempre nos rabiscos; como sonho, sabe aquelas fugas que acontecem depois
de longa insistência em tentar entender e não tem mais como, então, nessas
oportunidades ninguém mais me surgia, somente o nome de Capitu e os momentos
que passamos juntos. Tinha diversos amigos que fazia inveja com meu namoro e
minhas borrachas, canetinhas, lápis e cadernos que ninguém mais tinha iguais e
todos adoravam. As amizades de Capitu também fazia inveja nosso namoro. Sabia
cozinhar melhor que todas e ninguém tinha melhores dotes, disposição e
entusiasmo como ela. Meu desejo sincero é que mantenham, como nós, lembranças
como essa, pois se encontrar alguém dessa época, com certeza iram me conhecer,
apesar dos tempos não serem os mesmos, acredito quere-los até melhor que
daquela época.
Nos intervalos de uma aula
para outra, era notável como Capitu não tinha idéia alguma quanto faltava para
até o dia da formatura. Nem eu confesso que chegaria até ela, com ela. Um
analfabeto acadêmico que não tinha interesse em não ser por enfatizar que meus
conhecidos eram mais inteligentes, felizes e alegres que dos outros. É difícil
acontecer de alguém inteligente ser alegre e feliz, mas quando o telefone não
toca mais com tanta freqüência nem os e-mails são sobrecarregados, ou você fica
mais inteligente ou deixa de ser mais tão alegre e feliz e tenta novas maneiras
de comunicação, ou seja, evita-la; e continuar tentando ser uma pessoa legal.
Se continuar tentando
descrever meus méritos escolares, não preciso dizer como continuo sendo
bem-vindo em casa e na vizinhança, na maneira vulgar de um Dom Casmurro que
alcançou suas poucas palavras.
Passando de forma ligeira
por esse período, que não me exigi menos empenho em sua descrição pelo tempo
que me dôo, lembro de que tudo me dizia que devia evitar muitos elogios, mas
passava despercebido e colecionávamos na inocência de um espaço que uma vida
não faz esquecer.
42. A pilar
Quem nunca teve uma caxumba
ou catapora, todo mundo sabe como é. Ou lava a mão ou se evita contaminar. Todo
mundo tem uma formula secreta, um jeitinho, uma simpatia; ou aprendeu com o avô
ou alguém que conto. Se fosse um em que estivesse entre o povo para julgar o
Cristo crucificado, não sei se nesse tempo teria importância minha opinião ou
seria um na massa comovido por um ladrão.
43. A fórmula do abacate
Uma formula descente para
avaliar influencia em português e americanismo é partir um abacate no meio; não
falha. É um Santo remédio para crises coloniais.
44. Fausto N. Bittencourt
Nem sempre é necessária uma
rigorosidade nas convivas do dia-a-dia, nem por isso não exista o rigor. Fausto
não é um de meus personagens, e pra ser sincero eu não o conheço, já ouvi falar
que em alguma peça de teatro exista um personagem de mesmo nome, mas esse que
aqui coloco e citei dias destes em uma conversa com Capitu é uma analogia que
fiz com um interprete da exaustão, ou seja, do oitavo dia da criação, ou seja,
do cansaço desnecessário, ou ainda, do desvalor do oficio.
Muitas vezes quando não
estamos satisfeitos com alguma coisa, a melhor maneira para que ela seja pelo
menos aceitável é ter argumentação, quando nem a argumentação nos convence, o
melhor é saber inovar, por isso adaptei esse termo no meu vocabulário, para que
Capitu o adapte em seu também e que assim possamos ser um pouco mais entendidos,
pois não gosto dessas invenções para nos tornar peixe fora d’água. Quando for
dirigir sua atenção, que dirija com argumentação, não venha com teorias
neolíticas. As vezes me irrita tentar tornar compreensível minha insatisfação e
desgosto e não me vejo incapaz diante das aceitações.
O mesmo nome é o de Régis, e
pra não ser vitima da minha própria invenção terminológica, vou ser breve e
sucinto, descrevo Régis como o motorista de Fausto, que cabe na história uma
interpretação suas idas e vindas.
A distração nos entretém,
não é necessário um evento assim tão mirabolante, nem um cenário extravagante e
histórias muito complexas. Alguns personagens são cativos de nossa simpatia e
nos faz buscar suas figurinhas e confiança. Prefiro me fazer discreto e
aceitável. Não quero interpretações dos que me esqueçam em um canto qualquer da
casa nem que me carreguem debaixo dos braços.
45. As pernas
Também sentia ciúmes das
pernas de Capitu, mais que seus braços nesse período. Elas me diziam por onde
andava e como se sentia. As pernas britânicas de um Australopytrecos. As
pernas, não as asas. As coisas geralmente que nos convem são mais difíceis de
serem julgadas que as não nos convem, acho que isso faz parte do conjunto.
As pernas são tão
despercebidas às vezes, que nem as notamos, acho que nos lembra das angustias
dos rasgos de infância que nos prendiam aquelas caretas todas que aparecem de
repente do nada tentando se comunicar com a gente, ou tentando que nós nos
comunicamos. Pensando melhor, com o tempo elas vão se adaptando com agente e
vez por outra nem elas notam nossa presença. Mas as pernas nem sempre medem as
ocasiões e tudo que ficou pra trás.
46. Todos
Venho ao tema como a
cirurgiã do advogado, ou como o propagandista de penitenciária; o psicólogo do
comunicador ou do esportista, que conhece todo mundo e ninguém conhece eles.
Fazer entender que fucinho de porco não é tomada é diferente de que redemoinho
não faz vendaval. Professar uma teoria é adquirir experiência. Colocar um
pedestal para as desilusões de um não me toque e depois um venha a nós é
acreditar que a terra é redonda, que seu calor ferve por dentro e que seus
extremos são geleiras espaciais.
A Terra nos quer como quem
nos quer bem, sua natureza nos poe próximos como o Sol que nos visita todo dia.
Não existe quem me faça entender que alguma coisa vale mais do que o amor. Que
o que nos aflige é passageiro é que vale a pena acreditar. Tudo é denso, como
nossa hipocrisia, nosso não saber pensar o mundo. Deixar pra trás a selvageria
é os dentes que aparecem por não precisar de razões mais. Se existe guerra, ela
está nas perguntas que não fazemos a nós mesmos durante a vida.
47.
Separando, separando
Separar é tão delicado que
dá medo. Melhor dividir; sem espaço pra decifrar as razões de uma noite sem
carinho. Perto demais para tamanha pretensão de uma menina, uma moça. Separar é um pouco não querer mais. É o prazer
em conhecer. A
satisfação de não poder mais viver sem, de queixas; de pouco casos, de
reclamações de um jantar e do querer mais. Separar é provar vinho fino, de bom
conhecedor, que prova sem enrolar a língua. É o querer fugir sem dizer até
mais, nem nunca mais, voltar atrás e pedir mais. Separar é mais. É sempre mais;
até não o mais suportar.
48. Ainda
O mesmo conceito de
Paraguaçu, confesso, sofreu alterações com o tempo, mas não criei critérios
para desmerecer algumas mudanças. As mudanças primordiais regionais, locais,
está subscrita na memória. Queiramos que tudo seja dessa maneira e isso se
fará. É como a palavra; Deus criou a palavra, e tudo se fez. Ainda insisto em
convencer que as mudanças não merecem muita consideração, nem a velocidade com
que querem implantar. Desfrutar da paisagem é apreciado pela maioria de gosto
bom e sem pretensões desmerecidas. Ao menos que não se queira sentar na janela,
coisa que acho muito pouco provável; Sentar na janela e dar tchauzinhos de
sinta minha falta por favor. Não; repito. Ainda requer muita analise para
precipitadas conclusões de que nem se buscou saber o que é, porque é, donde vem
e como chegou. É lento já disse e repito e ainda torno a reforçar; o ainda
falta pouco.
Não foi Maomé quem
transportou a montanha, foi sua fé. O que isso nos ensina ainda é relevante,
por mais que não seja perfeito, o ainda é relevante e relativo. Seu esforço não
seria suficiente para transportar a montanha sozinho, para isso, também
precisou de devotos, por mais que suas qualidades de bom servidor e exausto
trabalhador não se confirmem, o ainda é Maomé que recusa por devoção.
O ainda é curioso, e suas
criticas valem anotações que valem para encontrar Capitu, ainda que ela esteja
nesse instante tentando maneiras para ainda se tornar entendida. Nem começou a
se explicar e já podia se notar sua falta; é assim que acontece quando nos
acostumamos com certas expressões, por mais que ela se torne repetitiva,
continua sendo nossa inspiração e motivo de tudo o que realmente somos.
Quando deixei Capitu na
rodoviária, partindo para Paraguaçu, senti que no fundo iria sentir minha
falta. Passei toda a viagem pensando em Paraguaçu, em Capitu e que o ainda nos
faltava.