domingo, 29 de julho de 2012



UM VENDEDOR DE PATENTE
  
Vão cagar no mato

Desembarcam as margens plácidas, um jovem descobridor e amante especulador encorajado pela paixão que cultivava em seu lugar relíquias que em se tratando de valor e vontade, buscava atualizar e polir com destreza e expertise juventude.  Vontade que despertava nas sensações, e remontava histórias, que buscava traduzir com o suor de um vendedor de patente. Perdido no tempo por uma rua de sua época o jovem vendedor perambula por entre as vielas a procura do numero que demarcava a residência do cliente ao qual angariava. À toa. Devia de ser nas construções, onde homens trabalhavam. Adentro as instalações, procurou pelo responsável. A pouco no exercício, ainda atualizava as qualidades de vendedor. No dialogo que se inicia com a ignorância do interessado, o vendedor se sente acuado. O apresso é maior do que imaginava e se Poe a correr. Não fatigado pelo cansaço brutal, no qual também sentia, mas pelo descaso moral de se perder de pensar. Perto já é do horário de almoço. De saída das entranhas que aquele lugar lhe remete, o jovem resvala em um servidor em labor com a fossa que se esgota para as margens de um riacho a desembocar naquele mar. Com humildade, se impõe em cortejo ao servidor que ignora e retruca em descaso. Talvez houvesse sido de propósito, quem sabe assim o devido valor. Se a fome já não lhe corroia, ao vendedor já se trançava o estômago. Quem dera lhe a companhia da moçoila que atravessava esbelta, rebolando os quadris e ovacionada por assovios e adjetivos, quem sabe assim uma oportunidade de alimentar-se. Pelos trajes há de ser demais daquele lugar. Mas nem sequer um olhar. Passou sem se quer notado. As graças todas e o rebolado dos quadris talvez houvesse de sido a um dos operários. Do descuido que se passa desperta para atravessar as vias que dão para o albergue ao qual lhe hospeda. No lugar, uma cozinha e lavanderia comunitária e um banheiro e quarto privado. De passagem pela cozinha, engole guloseimas deixadas de pronto e salta para dentro do quarto. Da bagagem largada por sobre a cama retira um amontoado de papéis, cartas, documentos e fotografias de família que organiza por sobre a cabeceira de um criado mudo. Se de todo cuidado não foi o bastante, quem imagina com a farda que pendura no cabide de um antigo guarda roupas. Se lembranças tolas lhe falam histórias o que viera é encontrar o que por essas terras veio deixar. Convencido que aquele seria seu lugar o tempo necessário para que seus sapatos fossem lustrados, buscou se adaptar ao pequeno albergue o tempo suficiente para melhores hospitalidades. Da janela entreaberta se via eram casas, prédios e construções e uma avenida em movimento de automóveis e pedestres. Região central. Cidadela com ar desconfiado, poucos ruídos. Pessoas quietas e acomodadas, senão em obras. Volte e meia senhoras passeando e adolescentes indo e vindo de seus colégios. Poucas cenas de aglomeração e tumulto. Por isso a atenção lhe chama de um comercio vizinho onde escuta discussões. Na cama em que lhe conforta o cochilo, o vendedor apenas atenta os ouvidos para entender o motivo do escândalo. O que lhe chega são vozes de um senhor embriagado em alto tom reclamando o infortúnio dos negócios. “– Vão cagar no mato! ¿Como pode ser uma calmaria dessa em um comércio de bebidas?”. Confortado por uma senhora, que parece ser sua esposa, não cessa em exageros do discurso. Já noite, no escuro do quarto, o vendedor corre as mãos pelas paredes para encontrar o interruptor de luz. A luz não acende. Imagina que a lâmpada tenha queimado. Tenta as luzes do banheiro. Também não acende. Coincidência seria terem queimado as duas lâmpadas. Mantém-se deitado até adormecer.

GUAÍRA





 GUAÍRA











Prólogo

Dessa idéia que surgiu em compor essa obra, veio de um relapso que surgiu uma semana após ter lido a obra de Machado de Assis – Dom Casmurro. Passei a acreditar que poderia dar certo a partir da construção do décimo primeiro Capitulo. Nesse dia, comigo estavam em casa, emprestados, as obras de Manuel Antônio de Almeida – Memórias de Um Sargento de Milícias e também a Obra de José de Alencar – O Guarani, nas quais me serviram de muito incentivo e influência literária. Espero que agrade o leitor e venha a prelo, pois sua intenção é de mais pura instrução e apresso. Nas linhas dessa história me alojei com algumas passagens de minha vida, que embaralho com as personagens de Machado de Assis. Acima de se tornar apenas uma trama de enfoque ao tema do adultério, trata também da liberdade, seu maior antagonista.


1. O Salário

Os tempos não eram os mesmos; Bem, e o resto...? A casa. Aquela, a mesma, de terras distantes, que de a pé judiava até o encontro as camas largas. Capitu adorou as novas mudanças. Sentia-se feliz, segura, longe das preocupações que lhe afligia. Bem-vinda a Paraguaçu, anunciava as colunas sociais. Era a glória. Tempo de trens velozes. As beiras vocabulários dignos. Longe daquele burburinho sem gabarito.
- Quem comprou esses pães de queijo?
- São meus e para mim;
Sabia que não gostava, mas como era do meu salário, mantive fiel a minha vontade de comer pães de queijo. Não dei bola. Ao certo não sabia o porquê não gostava de pães de queijo; Nunca imaginei alguém que não pudesse gostar de pães de queijo. Casmurras.

2. O Aprendiz

Carississimo leitor. Ao amor aos superlativos, qual falta fazia José Dias. Nas mesmas paginas de colunas sociais, estaria ele, com a certeza, contente a noticia de nossa estada em Paraguaçu. Jornalissisimo.

3. Leonardo – Pataca

Dizer-te que não é de meu grado dar telas a um paixonite de 320 réis e cotovelos ralos, mas Vade. Não vou estampar meu olhar de piedade a concorrerte.
- Do que estas a dizer?
- Do ciúmes de sua piedade;
Doute a capa Sargento. E boa viagem.

4. Paraguaçu prospera

Houve que aprender o português não se deve a mero escolher. Importa e bastante, leitor amigo. Convivas de boa memória. Acentue esse investimento e aperfeiçoe essa idéia. Não devas aos vizinhos a sua inércia. Até porque sua satisfação não pode ser medida. Da cena na varanda o murmurinho foi grande aqui em Paraguaçu. Aonde já se viu uma pouca vergonha destas. Nessa data, afirmo, nem pensava na carreira de advogado. Para situar melhor a respeito de Paraguaçu, quando nasci nem imaginava vir um dia morar aqui. E foi de lá da terra de Matacavalos que surgiram os primeiros boatos da separação. Os primeiros boatos do autor e sua personagem foram muito bem-vindos, pela criatividade literária. Paraguaçu, nessa época acreditava mais que nunca que as leis eram belas, que cortar o mal pela raiz é realmente o melhor remédio, e que pouco importa a infelicidade alheia, se seus romances talvez não sejam assim tão bem sucedidos como se cantam e dançam por esses lugares. Nossa maior dificuldade, sem sombra de duvidas, era acreditar nesse amor sem regras e bem-sucedidos que convenhamos, nem se passa perto interferir se ele realmente for verdadeiro. Para nós, daqui de Paraguaçu, são estrangeiros, longe das nossas preocupações e cotidiano.
- Ezequiel, quão velho se faz hoje?
- 9 anos, amor.
- Muito bem. Comportado!

5. Aluguer

Cumprir com as contas domestica; para Bentinho, era prioridade nos deveres de casa. Agradável como sua narrativa. Capitu, quando possível colaborava com as reservas do Velho Pádua. Digo dessa maneira, porque, em se tratando de dinheiro, era visível sua semelhança com o pai, só faltava o chapéu. Os exageros que extrapolavam as algibeiras agora refletiam na fisionomia. O resto, ainda sobrava para aulinhas de inglês.
Bem ao certo, não sabia exatamente da onde advinha seu salário. Ouvi esses dias uma conversa com prima Justina ao telefone sobre maquiagem e cosméticos. Bem se sabe que agora existia uma barreira entre o relacionamento de Capitu e prima Justina, até porque, culturalmente, Paraguaçu e Matacavalos tinham certa distância. Mas minha preocupação era realmente com o valor do Aluguer. O resto era história da Carochinha.
Quanto às fontes que me provêm, o leitor há de saber, pois Capitu sempre me atentava as faltas e manter olhos atentos. Apesar, exploração indevida é crime. Prestação de serviços e honorários deve ser devidamente avalizado; rentáveis.

6. Oras Bolas

Pedia sempre a Capitu parar com a mania de ajeitar meu penteado na frente dos outros. Deixei de usá-los compridos a longa data, e essa mania dela me deixava intrigado quanto a minha timidez.  Hoje, vejo que o seminário agregou valores importantes para o dia-a-dia. Perto de casa, os lotes de terra que deixaram de ser meros terrenos baldios, ou cercados de plantação e horta, passaram a ser estacionamentos de carros e obras e mais construções que não param de crescer. Acredito no progresso, contando que ele contribua a Paz; pois se encontrar eles nas linhas dos textos será muito mais fácil de compreender justificativas. Apesar, o valor simbólico de um olhar a baixo ou um olhar a cima, visa o horizonte como equilíbrio, e se você Capitu, não estiver, contando desse momento, a distância suficiente para nesta vida encontrar seus lábios, prefiro essas linhas deixar por escritas. Pois nesse instante os olhos irão se vedar; A essa altura, seu nome venha a cargo, letra a letra;

7. As 25 e cinco

Embaralho “As”, e venho a refletir política e democracia. Sancha a muito não nos tem dado noticias. Escobar em sua ultima aparição fotográfica o vi treinando com suas luvas de boxe. Adorava boxe. Época que remonta a recém formatura, sonhos de fortuna, junto de Escobar a idéia de empresa, deixar os 30 dias de lado e passar de vida boa. José Dias dessa época só lembranças da Sege. Sempre em frente ao escritório, investigando a papelada e dando incentivo ao sucesso. Espero que tenha se recomposto a criatividade, pois ela tem limite, é de A a Z; não Passadiço; e bem recordo dos ciúmes nem as beiras das algibeiras. Minha relação com Capitu nesse tempo vivia em discussões e ciumentas. Não vale muito a pena à lembrança, até porque cavaleiro também caminha a pé. Não me venha de bons amigos, francamente. Exigir um pouco pronto de quem vende prata falsa não é exagero para elas que são belas.
- Ai meus pães de queijo.
- O que é?
- Nada!

8. Virgulemos

Esses são campos que se fazem às letras
Onde o vento sopra sem error
Educar é verdadeiro amor

Esses são mares que lhe quer penhor
Nossos versos têm muito valor
Educar é verdadeiro amor

Nosso hino cantemos em louvor
As nossas virgens flores de amor

Chamada querida Paraguaçu
Vinde a nós com mais bela cor
 
Nossos versos têm muito valor
Nem a Lua Poe neles error
Palavra forte, Terra e Guerra
No esporte seremos vencedor

Chamada querida Paraguaçu
Vinde a nós o vosso amor


9. D. Glória

Minha mãe sonhava com a prosperidade de Paraguaçu. Dizia “serão desses portos que essas terras vão se fartar”. Seu salário desde quando éramos pequenos vinha das agências ferroviárias onde trabalhou nos armazéns e se aposentou. Vislumbrava transportes ferroviários modernos, interligando as principais cidades de Paraguaçu. Com Tio Cosme dividia seus desejos de prosperidade de Paraguaçu. Quando gritava “Mamãe, Mamãe”, ela respondia, “Tubarões, Tubarões”; conselhos dela. Não farei esquecer.

10. Viagem a Portugal

As caricias de Paraguaçu era vasta. Seus relevos, planícies, montanhas, fortes córregos e majestosa natureza. Sua civilização modesta, encabrunhada mata adentro. O Canapé em frente de casa, sempre que possível calculava interesses. As consultas ao pai dos burros sempre me fazia dividir com Capitu minhas dúvidas esclarecidas. Era minha segurança quando usava seus braços de fora.  Segredo por segredo, comprei as passagens com antecipação e as reservas estavam todas prontas. Cheguei em casa animado com o sucesso e não via a hora de dividir com ela o itinerário.
- Mona, não advinha o que descolei?!
- Um novo emprego!
- Não! Uma viagem para Portugal.
- Mentira!
- Verdade!
- Pra quando?
- Novembro!
- Sério!? De verdade?!
- Juro! Veja só. Com tudo incluso. Viagem de ida e volta, com estadia inclusa, café, almoço e jantar.
- Não exagera!
- Nessa cidade, Coimbra, nasceu D. Sebastião – Rei de Portugal.

11. Pastéis de Belém

Não quero lhe encontrar perdido por essas páginas, caro leitor. Se fartar em gargalhadas em Debuxo Colorido não é nenhum pouco consideração de amizade, nem muito menos respeito a quem quer que seja. Minhas mágoas não irão se afogar em herdeiras conquistas. Viver vale muito mais a angustia da vitória ou uma glória de meras aparências. Destaco aqui nessas páginas uma receita para os momentos viveiros infortúnios, e que eles sirvam para sua reflexão a um famigliare momentus.
- 500 gramas de nata;
- 9 gemas de ovos;
- 10 colheres (sopa) de açúcar;

12. Usar e Abusar

 - Carece de relevância os comentários de Ezequiel nessa noite, tu não acha Capitu?
- Idéias sem pernas, idéias sem braços.
- Um Protonotário Apostólico?
- Não pra tanto.
            - Um Fausto Bittencourt!
            - O que é Um Fausto Bittencourt?
            - Fausto Bittencourt é um Fausto Bittencourt, oras bolas. Só explico quando me explicar o que é um Panegírico de Santa Mônica.
            - É uma Inscrição, irrelevante.
            - Relevantississimo.

13. Leia a Bula

Estar vestido, para alguns é uma tarefa um tanto quanto exigente, para muitos é um hábito mais que natural, ou seja, explicando, para poucos as roupas são duráveis, para muitos não. No corpo ou fora dele, isso não importa. A mania de dormir sem elas aqui em Paraguaçu é muito raro, pois o clima é frio quase o ano todo, diferentemente da casa de Matacavalos, por lá, clima tropical, agente se sente mais a vontade.Fato é que vestes é um veiculo importante e extremamente distinto socialmente.Não preconceituantemos onde não existir a regimenta, ou seja, fora do parlatório.
                                                                                                                    
14. encabrunhadas

Na rua, sempre existe um herói; geralmente que odeia televisão, mas ama velocidade; Não se entende mesmo. É como o mendigo do Portão; Não sabe se usa chapéu porque o Sol é forte ou se o Sol é forte porque ele usa chapéu. Talvez as aulas de aritmética possam esclarecer melhor minhas dúvidas. Vamos entender tudo isso. Porque ninguém é desinibido a tanto extremo há comedia. Uma cultura comedida em algum lugar nos indica certa indiferença.  Convivamos com alegria, não com ironia. Não acredito em Imposição Cultural. Quem nela acredita, sinceramente recomendo melhor flexibilidade de idéias. Não me esqueço das criticas de Capitu a César, nem por isso tiramos das paredes os medalhões, que decoram nossa sala de jantar. Por mais que se distraia em precipitados julgamentos, é uma eximia curadora.

15. A amizade de Duda, Victor, Julia e Vicius

Duda era recente na turma. Dia desses da discussão de Victor com Vicius sobrou à atenção de Tio Cosme para que a situação não se agravasse. Vicius abusou das cobranças direcionadas a Victor e as brincadeiras passaram a serem mais sérias. Comemoraram aniversário juntos nesse ano; apesar dos dias serem próximos, a diferença era de aproximadamente cinco anos. Estava eu há completar trinta anos, quatro meses próximos. As idas e vindas de Matacavalos a Paraguaçu eram freqüentes, e algumas confraternização que saiam com sucesso era a felicidade para D. Glória, como o ultimo natal, onde todos estavam presentes, também no aniversário de Victor e Vicius, que seu irmão esteve presente. Capitu gostava a casa cheia, mas não suportava surpresas sem horas. O calendário era repleto de bexigas, língua de sogra, chapeuzinhos, beijinhos e brigadeiros. Julia e Victor nessas férias passaram as encabrunhadas. Victor era tímido, e Julia desmiolada e volte e meia aos corredores se pegavam em segredinhos. Quando Victor quebrou a vidraça com o skate, sua fisionomia já esperava as represálias. Tio Cosme insistiu por justificativas da vidraça quebrada; não quis aceitar um acidente tão logo. A inquisição não chegou a ser tão recriminativa que justifique o desaparecimento de Victor desde esse dia. Imagino que seu retorno venha com o Shopping Center junto e com as criticas as novas cuecas de Vicius. Victor gostava de goiaba e Vicius de melão, Julia de ballet e Duda de picolé.

16. A mais linda seta do seu arco

Existem momentos que exigem demonstração de coragem, decisão e liberdade. Vi no ajeitar de Capitu as penas de seu cocar voltar-lhe as forças a sua marcha através da floresta. Me senti como um índio que esgotou todas as flechas de seu arco e nesse momento qualquer que fosse meu pensamento, os ciúmes me corria por entre as veias. Qualquer que fosse a intenção de concentração as vistas se tornaram embaçadas. O escritor que não se atira ao jogo com temor de pobre canto, se compraz com o campo grande e um personagem pacato, solitário e triste. "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."--"Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."--"Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça."
  
17. Lembranças de Matacavalos

Cavalheirismo vem de berço. Há quem defenda essa tese; porém, refletindo a respeito de certo adjetivo, prefiro deixar as portas fechadas. Saulo foi convertido há caminho de Damasco, logo após passou a ser chamado de Paulo. De perseguidor de cristão, passou a discípulo e apostolo. Há também quem faça analogia com nossos tempos com essa história que ocorreu na Líbia, mas exatamente na Síria, séculos atrás. Prefiro lembrar meu travesseiro que deixei esquecido em uma parada no caminho que liga Paraguaçu. Se alguma linha mais for necessária para aquele que foi o Salvador, que fique dedicada a Paulo de Tarso. Fica a alerta ao ditado, quando não puder com o inimigo, não junte-se a ele, nem divida com sua companheira suas aversões e acusações sem convicções. Paulo foi marido de Abigail, irmão de Dalila, que se relacionou com Estevão, que foi perseguido pelos homens de Saulo, que tinha descendência de família nobre da Itália. Quando passou a viúvo, manteve-se na fé cristã. Foi canonizado e santificado.

18. Hoje

José Dias, se por aqui estivesse acho que mereceria uma promoção. Brincadeiras a parte, antes de ontem, quem se recorda, merecia um altar. Hoje, estaríamos todos reunidos naquela cena tradicional de família recordando os momentos felizes e outros nem tanto, revelados nos álbuns de fotografia. Chega a ser pavorosa as recordações que nos atiram com a memória falha, e pior, esse maldito recurso que inventaram, ficam martelando na cabeça. Capitu tinha uma máquina fotográfica, se sentia no céu quando conseguia capturar boas imagens. Certa feita conseguiu capturar uma imagem de um casal de virgulinos do pantanal bem no momento do acasalamento. Fiz questão de retratar e deixar como decoração na minha mesa de escritório. Pássaros são realmente admiráveis; belos e livres.
O mito da caverna de Platão descreve a reflexão do homem através de uma caverna onde o sol adentrava por uma fresta. Filosoficamente relevante uma analogia a condição humana, o homem e o tecnocinismo moderno. Apesar, o agora de Atenas também me trouxe a refletir a relatividade do tempo, do viver e do pensamento humano.
Cheguei a casa, abri a porta devagarzinho, pé ante pé. Busquei uma xícara de café e tomei. Jantei fora. De noite fui ao teatro. Escrevi dous textos. O primeiro queimei-o por ser comprido e difuso. O segundo continha só o necessário, claro e breve. Não lhe lembrava o nosso passado; nem as lutas havidas, nem alegria alguma; falava-lhe só de Escobar e da necessidade de morrer.

19. Moeda corrente

Reinando a febre novamente por essas terras, uma medida foi adotada como uma alerta as imoderadas relações da corte. Passou à vigência de unidade de medida monetária o Joule, Britsh thermal unit. A adaptação foi uma forma definitiva adotada nas relações mercantis com os cidadões de Matacavalos, que dificilmente aceitavam as proporções adotadas. E uma posição de sustentabilidade, independência e identidade nacional de Paraguaçu. As moedas em Paraguaçu passaram a serem impressas na progressiva 3, 6, 9, 13, 16, 19..., e J#3 equilavia a R$1,25. Quando alguém queria desmerecer a cultura literária de alguém em Paraguaçu, usualmente se dizia “esse tem joules no bolso”, pra ser razoável, frase adotada pelo agregado que se tornou comum por esse espaço.

20. O Interprete

Conheci um rapaz que entendia tudo, sabia tudo, não vacilava nem um instante se quer diante de qualquer questão. Perguntei lhe o nome, não demorou muito, com orgulho e respiração pausada respondeu “- Flautim”. Lindo nome, respondi. Sempre o encontrava na Estação. Você gosta de música, questionei. A vida é uma ópera e uma grande ópera, respondeu. Não surpreendi sua maneira, tinha o dom de se fazer aceito e necessário. Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Por hoje, Bentinho, Bentinho, por favor. Calei. Olhei o relógio inquieto. Fortunata e Glória estavam demorando. Combinamos na Estação quinze para as três. Fitei novamente o cobrador e lhe inquiri as horas. Faltavam quinze minutos para as três horas. Tomei o trem.
 Confesso que senti graça ao horror ao ler de atropelo o ultimo periódico do Jornal A Estação. Na capa o velho Flautim, diferente do tempo que lhe conheci ainda rapaz, sempre a sua maneira, opinando e sempre alegre contente nos comentários que lhe faziam matéria. Era um Porto.

21. No cerimonial

No dia programado para a cerimônia de inauguração de Paraguaçu, os convidados fizeram presença. Assumia as honras de Prefeita D. Maria de Albuquerque e Santiago. Gravado em cobre em praça as honras em mérito aos eleitos. Ao lado esquerdo a guarda ao lado direito a banda.
Não falto descrever como estava caprichosa Capitolina nesse dia. Inteira coberta de branco por um vestido rendado com bordas em detalhes floridos. Exibi-lhe um beijo seguido de elogios todos.
Estava a anoitecer; Ao fundo a primeira estrela cintilava, a bandeira azul e branco estendia-se com a ondulação do vento após ser hastiada com o cantar do hino.

22. Socialismo gravitacional

 As pirâmides egípcias me vieram à idéia como forma empreendedora, apesar, como será que nos tempos dos faraós funcionavam as relações comerciais, alguém será que já pensou sobre isso? Hermes trimegisto dizia que aquilo que está embaixo é igual ao que está acima.
Tal pai tal filho, filho de peixe peixinho é, cara de um fucinho de outro, esses são alguns ditados populares que me fizeram relembrar; dúvidas sobre dúvidas. A maior parte do meu tempo dividia com as tendências capitalistas, e preocupações climáticas.
- Como tem andado Bentinho?
- Não me incomodam as pernas caminheiras; De sobra, como bem e não durmo mal;
  Cury era um médico da região; sempre atencioso com todos que conhece. Desconfio dos seus exageros. Não devo tanta bondade de sua gentileza. Lavo minhas mãos a pretensiosa gratidão.
Descrevo minhas pretensões comerciais fortuitas aos visionários globalizados, talvez se Isaac Newton, Thomas Edson, Galilei Galilleu, e demais não houvessem compartilhado suas descobertas e invenções, um regionalismo mais socialista seria possível.
Não desmereço minhas relações sociais hoje em casa; apesar da família apresentar considerações de convívio, e de anteriore,  naturais, minha reclusão a essas páginas ainda refletem a um adendo de agradecimentos.
 Quanto insistente desconsideração de Capitu ao seminário, ainda dividia com ela aquela personagem meiga enamorada de seu vizinho Dom Casmurro.
Na missa de ultimo domingo, nossos pensamentos foram, como posso explicar; sincronizados; seria a palavra, sabe quando os pensamentos estão direcionados um para o outro em um objetivo. Então! Nos sentimos assim unidos como um só. No horário acertado nos encontramos e nossas verdades se uniam no amor que sentíamos. De seu olhar pude perceber como se sentia feliz em estarmos ali. Sem palavras necessárias para justificar, simplesmente estar; juntos, legais e bonitos.

23. Visitas

A imponência de uma estrutura urbana predial em primeira vista não revela sua prevalência aqueles que advem dos campos, mas são torres que escondem a formula primeira dos engenhos, a preservação das artes arquitetônicas e os rascunhos dos poemas belos. A porta é mais que uma forma de madeira que o tempo corroe pelos cupins, simboliza uma divisória que se enquadra nos detalhes decorados nas paredes. 
- Sejam bem vindos.
- Fiquei deslumbrada com a decoração.
- São originais.
- Imaginei.
- O que achou? Moderno?
- Meu filho iria adorar esse espelho.
- Sentem.
Para o jantar esperávamos um casal de amigos que vinham do interior para uma semana de negócios em Paraguaçu, então fizemos um pedido de pizza. Julia era irmã de Vicius, que faziam questão em tragar seus fumos de fidalgo atribuídos por seus pais na varanda.

24. Ta raso, Ta fundo

Era importante pra mim que nas férias pudesse ver o mar. Apesar de não ser devoto de Nossa Senhora Aparecida meu amor ainda lhe era fiel.  No quarto, desfazendo a mala, me veio a lembranças daquelas palavras “Tu serás feliz, Bentinho” que surgiu interiormente como uma luz de esperança. Nada é mais dolorido que as barreiras do ciúme. As dez libras de Capitu me fizeram enxergar galho na cabeça de macaco. Por mais que evitasse demonstração de me sentir seguro com relação as minhas dores, não me impedia espiar sua distração. È camarão isca de peixe; peixe isca de tubarão; Está embarcação não está à deriva, e nem é este um naufrago marinheiro de primeira viagem. Eu já disse que era poupada; ou fica dito agora.
  
25. Até o Padre entrou na Paróquia

Está não era uma cena que intencionalmente deveria surpreender Capitu. Mesmo porque o cenário foi de improviso; dos ensaios, passei a peça. Ninguém guardava que Capitu nesse dia escondesse tamanho rancor de minha pessoa. Foi pega aos prantos na frente de todos; uma platéia de admiradores. Desajeitado, não soube o que fazer com os insultos que me dirigiu. De certo alguma coisa a convenceu que estivesse a enganando e não consegui me explicar. Pedi para que tivesse calma e se recomposse e nos explicasse o que lhe afligia. Ninguém sabia me explicar o que estava acontecendo. Não era característico de Capitu perder o controle dessa forma.
- Não me venha com conversa Bento Santiago, esses ensaios estão muito mal explicado.
- Parece uma adolescente;
- Pareço, mas não sou. Sou mãe e você deveria ser homem suficiente digno de respeito às horas que chega.
- Há que devo exigente pontualidade?
- Ao meu respeito.
- Sou livre Capitu, quero que você entenda isso; livre desse seu amor que me quer ingrato. Se quiser dele minha dignidade, se levante e me mostre de verdade essa coragem.
- Quer que vá embora?
- Quero sua compreensão ao meu esforço e dedicação, não seu desmerecimento.
Decorei meu papel, desatento leitor, e espero que tenha desempenhado;

26. Bentinho

O melhor companheiro de Bento Santiago com certeza era seu codinome Dom Casmurro. Minha excessiva preocupação em se tornar agradável é uma mania de minha personalidade. Desajeitado, sempre sinto que alguma coisa está faltando; não justifico como timidez, acho mais é uma mania perfeccionista, que talvez nem todos tenham. As amizades eram de data recente, os antigos foram todos estudar os campos santos.  Família sim, sempre; abaixo de Deus, acima dela somente os livros. A aparência não engana, mas pode esconder o que existe no seu interior.

27. Memórias de Leonardo

Um ícone da policia de Paraguaçu; observações sempre discretas e relevantes. Notável, sempre sabendo se fazer presente. Particularmente sinto privilégio em poder contar sua intimidade pela afinidade que o tempo nos faz. Pude contar certa feita, com suas considerações a respeito das influências que se faziam infiltrar na sociedade de Paraguaçu. O descaso as autoridades militares estavam invadindo os noticiários locais e a sociedade civil passava por um abalo de valores, costumes e regras. Leonardo considerava uma questão de tempo a adaptação de um modelo de segurança, que a influência na qual me referi era rígida, desprezível, mas eficaz.
  
28. Quando?

Bens duráveis e não perecíveis; até que ponto tem importância sua desintegração. Uma gravata guardada no armário, no cabide junto de um paletó pedia a uma iniciativa. Também aguardava meu animo os vasos e canteiros da casa. O inverno castiga; ainda mais com geadas freqüentes. Talvez pudesse existir uma outra na história, com fantasias e mascaras caída; mas não era. Um muro punha seu lado ingênuo. É a mesma. A diferença me deleita em uma cama solitária. Perto, longe, o que nos separa? A lareira pedia lenha na sala de estar; Gostava me valer pelas camisas guardadas de época, que me serviam ainda para experimentar um olhar de descaso, pois essa mesma guardava ainda o perfume do tempo que detalhes não faziam questão. Um sapato, um relógio, como se diz, assim todos se entendem. Um lenço trazido ao bolso; o fazer confortar as pessoas que nos falta. Talvez por aqui não estivesse se tomasse atitude de um terno ao invés desses panos que jardino no quintal. Um ramo de rosa; um pé de pitanga e as folhas deixadas do outono preenchem à tarde. Do jardim a lareira; as lenhas trazidas e postas.

29. Os outros

Ninguém mais que possa consolar, foram todos embora. As cordas todas desafinadas, o acorde difícil e o deixa pra lá. Espalhafatoso, exagerado. Muita gente falando ao mesmo tempo. Uma janela que me socorre; esse piano é meu, esse lugar é meu e essas saias são minhas. Saias rodadas, saias já. Ninguém que me faça entender a diferença entre mim e você. Pedi foi um copo de água, ninguém que me pudesse atender.  Infantaria, covardia. O adultério e o vivo só. Copos todos espalhados sobre a mesa. Pratos todos deixados pra depois. Enfim, o copo d’água.

30. Afirmando

Entendo o que quer me dizer Victor amigo. Dirigi-lhe a palavra; um conselho sincero. Mas deixe pra depois, pois a festa acabou. Por mais que insista em convencer, ainda assim não vai me entender. Somos assim, e não serão elas que irão nos vencer. A televisão não pega, não adianta insistir, nem o computador, nem o processador. Depois da ultima tempestade o circuito pifo. Vá cuidar em hortar, aprender a plantar. Só não caia no rio se não souber nadar. Há quem não acredite nos outros e quem não acredite em si mesmo. Em nenhuma delas acredito, mas sim, em quem chegou até aqui. As estradas da vida são muitas, nele muitos ensinos. Linhas curvas, linhas retas. Guarde suas descobertas ou compartilhe, tanto faz. Refazer uma nova estrada ou consertar uma já construída. Novos amigos, ou velhos amigos. E por fim, aproveitando ainda sua atenção, lhe afirmei, o caderno é um confidente fiel.

31. Duda

Na casa de D. Glória existia um quartinho que me servia de abrigo. Ali conheci Duda, meio a bagunça, que eu insistia em organizar. Duda era uma catadora de papel. Sua história se passou a turbulenta servir devido a dramática cena envolvendo um fonógrafo da casa de uma importante família de Paraguaçu. Ana não queria deixar importante relíquia de luxo nas mãos de empregados. Seu marido Amâncio fez questão em exaltar que somente seu filho Antero colocaria as mãos no aparelho. Antero não abdicou do fonógrafo. Antero trabalhava junto com Libório em uma loja de tecidos, não muito longe dali.
Eram umas cinco crianças, todas sem idade definida. Podiam ter cinco ou oito anos, quatro ou sete, dois ou quatro, já que, entre os miseráveis, o crescimento mental e físico é desigual e incoerente. Não se distinguiam umas das outras, senão pela roupa surrada, feminina ou masculina, e pela pena e dentes sujos, que se advinham mais do que se viam.
No entanto, havia entre elas uma jovenzinha que repontava pela natural beleza. Sob a sórdida aparência de desleixo, os olhos muito claros e os cabelos anelados dominavam a figura. Os seios transpareciam pela blusa apertada e surrada e as pernas se adivinhavam perfeitas da saia que estava um tanto abaixo dos joelhos.
Não se afastara da porta, nem se impressionara com o furor de Libório. Parecia hipnotizada pela musica e caminhou, vagarosamente, em direção ao fonógrafo. A menina chegou perto do aparelho.
- Procura alguma coisa? – Perguntou Antero.
- A música – falou a menina inebriada – De onde vem?
- Deste disco.
- Para ter a musica é só preciso ter esse prato preto? – Perguntou a jovem.
- É, a música está gravada nestes sulcos – comentou o rapaz. Tomando de um disco e mostrando a jovem.
Inesperadamente ela tomou o mesmo de suas mãos e correu para a saída.
- Peguem-na – gritou Libório, cuidando tanto da gramática como da repressão.
- Corre, Duda! – gritou um dos garotos.
Apesar da surpresa e agilidade, Antero viu-a ser apanhada alguns metros a frente, por um rapaz que passava.
Surpreso e lívido, Antero não quis chamar a policia. Estava curioso. Queria saber tudo sobre aquela menina chamada Duda.

32. Voltamos ao título

Meu primeiro salário foi algo muito valioso para Bentinho Casmurro; ir ao empório e escolher ninharias. Um dever amaríssimo e saudável.  Meus dotes culinários não eram lá muito de elogios, mas já havia adquirido certa experiência. O segredo é medir elogios e colher criticas sinceras. Agradar paladar não é tarefa das mais fáceis. Minhas aventuras na cozinha, segundo Capitu, foram sempre bem sucedidas. Menos mal. É o suficiente. Eu também não desmerecia minhas preferências. A tradição dos produtos nos transfere certa confiança, mas essas embalagens modernas são tentadoras e são verdadeiro chamariz de consumo. Vale o bolso a analise.

33. honra

É desejo de todo homem de palavra acrescentar adjetivos, pra não cair na egoística armadilha das aparências. Colecionar medalhões e troféus nos distancia da simplicidade do mérito. Mudar a didática talvez nos faça caminhar juntos seguindo os exemplos sinceros de quem não se ouve o sorrir. Talvez porque estivesse guardado singela fisionomia para os momentos mais santos dos sábios, ou mais sábios dos santos. Em um dia de abril, eu fiz uma questão. Questão em descobrir as mais belas dúvidas do amor. Uma voz repentina: “Desce daí”.
  
34. A igreja

Encontrei uma forma em descrever a aurora que se compôs no céu na minha caminhada na ida a igreja. Dizer que nunca fui muito de acreditar em coisas transcendentais, mas as pessoas me convenceram que fosse um tanto quanto místico. Acredito que somos vegetarianos, apesar de ter sido formado em uma sociedade em excesso carnívora. Em um livro que adquiri em uma livraria com o dinheiro que tinha no bolso, o autor não desmerece uma cultura da beleza, mas que para alcançarmos devemos transpor barreiras que ainda se fortalece em nossa natureza.
A igreja era de arquitetura moderna. Não tinha exagero de detalhes, ficava na rua de trás, não era a da frente. Duas vigas suspensas com mais uma sustentada e no fundo uma floresta repleta de pinheiro e mata. Exatamente confortável, sem se sentirem apertadas, cabiam quatrocentas e sessenta pessoas sentadas, mais duas de pé, e mais sete no tablado. A caixinha terminava no lado direito inferior. No caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no caminho. A chave errada não está guardada nas linhas desse livro.

35. Talvez

A persistência da dúvida acho que nos coloca em determinadas situações como péssimos professores, fiz essa questão a Capitu. Ela me respondeu da seguinte forma: “Quem sabe”. Boa substituição, falei a ela. Melhor seria se bem pontuada. Você não se lembra? Ela me perguntou. Do que? Lhe respondi. Da sua primeira vez! Perguntou. Eu me lembro. Respondi.

36. Nos querem bem Capitu

Não havia problema algum desfrutar das noites de Paraguaçu. A lua quando agradável é uma ótima opção para exaltar os ciúmes da sociedade de Matacavalos. Essa concorrência estava se tornando um tanto quanto desleal, e provocando reações adversas
para uma disputa equivalente. Luzes ao esporte, é o que a noite de Paraguaçu queria, e deixar claro para seus rivais que o uivo do lobo nos protegia das suas investidas a nossa insônia. “Dom Casmurro, essa noite vamos ao clube. Dom Casmurro, não perca de assistir o jogo essa noite. Dom Casmurro, vê se deixa essa caverna do Engenho Novo e venha passar uns quinze dias conosco.”
            Existe uma margem que divide território, esclarecendo e confortando bem a leitora. Essa margem está exatamente no impedimento que existe em esse livro estarem em suas mãos, ou onde leva ele até suas mãos e entendimento. Bem ao certo, geograficamente, Matacavalos pertence ao mesmo território de Paraguaçu, mais ao norte, Paraguaçu mais ao leste.
            Para uma noite agradável, uma excelente companhia. Nada poderia estragar nosso momento juntos. Nem barulhos desagradáveis, nem as luzes, nem pessoas, nem o que quer que fosse. Perfeito, como planejamos. Um brinde e uma boa noite.

37. Amanhecer

O sol ameaçava as primeiras investidas, percebi pelas frestas da persiana, mas sem coragem de levantar, voltei a chochilar e só realmente me vi desperto quase próximo do horário do almoço. Capitu levantou primeira, insistiu para que tomássemos café juntos e fizéssemos uma caminhada que queria me mostrar. O Sol já havia se mostrado ao todo, as nuvens deixadas para trás. O vento discreto batia nos cabelos de Capitu, deixando seu rosto mais belo, contente, me mostrando o caminho e falando daquelas ilhas que tanto lhe encantava. Não queria lhe interromper, mas lhe lembrei que precisávamos almoçar e estávamos distantes onde hospedávamos. Descemos mais algumas quadras até a loja de tecidos, comprei um vestido que gostou e não atrasamos para o almoço.

38. O engenho novo

A intolerância do engenho novo é uma engrenagem que guarda todas as histórias de amor do mundo. Não entendeu. Explicando. É a precisão. Um espaço geográfico que engloba toda tecnologia da comunicação, que habita Fausto e Ford. É a complexidade de um veiculo sem bagagem com a leveza de um ultraleve. É os versos de Dom Casmurro jamais revelados, escondidos no segredo de seu denominador secreto.  É a vinda da cidade. O joule, o salário e o transporte. O motor, o trabalho e a indústria. O modelo T produzido em série em 1908. O rato pensando o homem. Um paraíso de São Lourenço e o caminho de Dallegrave.
O que mais abarca o engenho novo é o limite de uma ponta de lago com a varanda de um Mansur e sua teoria da torre de xadrez. As reformas de Garibaldi em um sentido, ou os sentidos da reforma de Garibaldi, que só vai e não vem mais. As Bicicletas da Ceci, os skates de Victor e as esquinas de Folloni e Queiroz. As 250 peças de Otelo, que eu nunca assisti, mas ouvi falar algumas semelhanças.
O engenho novo não era só isso, havia também muito interesse. O aprender a ler. O desuso e as páginas caídas às solta precisa sempre de uma nova impressão. Desde o tratado de faber de Paraguaçu, talvez, ou quem sabe, o Engenho Novo passasse a pratica de suas novas invenções.

39. Tudo a ver, nada a ver

Foi contado depressa, não deu pra entender direito, mas deu pra perceber que alguma coisa tinha compreendido, e lido; mas não entendido. Tio Cosme não tinha nada a ver com o velho Pádua. Tudo a ver sim que o José Dias era o agregado, a casa comportava sua hospedagem, a pedidos de D. Glória. Gurgel era pai de D. Sancha, pra quem chegou até o Capitulo. Ganhou na loteria pela segunda vez quem descobriu o mistério da boceta de Pandora. D. Glória não era chegada de Fortunata. Escobar era de família de Curitiba e nos conhecemos no seminário. Merece uma releitura. Manduca era meu vizinho da casa de Matacavalos e minha mãe tinha uma casa na rua da glória em Itaguaí. Meu namoro com Capitu começou quando tínhamos 14 para 15 anos e toda a história se desenvolve nessa época e nosso envolvimento nunca ouve interesses materiais, maiores que o nosso amor.

40. Quarenta e cinco minutos

Foi o tempo que levou pra chegar até aqui bem entendido, com tempo de sobra e disposição. Senti o dever comprido do todo empenho dedicado aquela prova de língua estrangeira. Confesso que não foi fácil, no inicio não entendia nada, foi me dando um nervoso, parecia que todos estavam atentos ao meu despreparo. Foram alguns minutos com a caneta tremula nas mãos para caçar as primeiras palavras que me descem segurança. Grifadas, aos poucos fui conseguindo entender melhor do que se tratava, dominando o assunto, fui dando seqüência as novas descobertas que me davam confiança para pelo menos ter certeza que poderia concluir o teste; “everywhere in the world”; concluir e porque não acreditar que poderia vencer a insegurança e passar a uma nova fase. Não entendi foi nada, mas deu pra disfarçar. Fica entre nós.

41. Pluralismo divertido

Continuo insistindo em narrar essa fase de colégio, que deixei passar em outras oportunidades. Capitu surgia sempre nos rabiscos; como sonho, sabe aquelas fugas que acontecem depois de longa insistência em tentar entender e não tem mais como, então, nessas oportunidades ninguém mais me surgia, somente o nome de Capitu e os momentos que passamos juntos. Tinha diversos amigos que fazia inveja com meu namoro e minhas borrachas, canetinhas, lápis e cadernos que ninguém mais tinha iguais e todos adoravam. As amizades de Capitu também fazia inveja nosso namoro. Sabia cozinhar melhor que todas e ninguém tinha melhores dotes, disposição e entusiasmo como ela. Meu desejo sincero é que mantenham, como nós, lembranças como essa, pois se encontrar alguém dessa época, com certeza iram me conhecer, apesar dos tempos não serem os mesmos, acredito quere-los até melhor que daquela época.
Nos intervalos de uma aula para outra, era notável como Capitu não tinha idéia alguma quanto faltava para até o dia da formatura. Nem eu confesso que chegaria até ela, com ela. Um analfabeto acadêmico que não tinha interesse em não ser por enfatizar que meus conhecidos eram mais inteligentes, felizes e alegres que dos outros. É difícil acontecer de alguém inteligente ser alegre e feliz, mas quando o telefone não toca mais com tanta freqüência nem os e-mails são sobrecarregados, ou você fica mais inteligente ou deixa de ser mais tão alegre e feliz e tenta novas maneiras de comunicação, ou seja, evita-la; e continuar tentando ser uma pessoa legal.
Se continuar tentando descrever meus méritos escolares, não preciso dizer como continuo sendo bem-vindo em casa e na vizinhança, na maneira vulgar de um Dom Casmurro que alcançou suas poucas palavras.
Passando de forma ligeira por esse período, que não me exigi menos empenho em sua descrição pelo tempo que me dôo, lembro de que tudo me dizia que devia evitar muitos elogios, mas passava despercebido e colecionávamos na inocência de um espaço que uma vida não faz esquecer.

42. A pilar

Quem nunca teve uma caxumba ou catapora, todo mundo sabe como é. Ou lava a mão ou se evita contaminar. Todo mundo tem uma formula secreta, um jeitinho, uma simpatia; ou aprendeu com o avô ou alguém que conto. Se fosse um em que estivesse entre o povo para julgar o Cristo crucificado, não sei se nesse tempo teria importância minha opinião ou seria um na massa comovido por um ladrão.

43. A fórmula do abacate

Uma formula descente para avaliar influencia em português e americanismo é partir um abacate no meio; não falha. É um Santo remédio para crises coloniais.


44. Fausto N. Bittencourt

Nem sempre é necessária uma rigorosidade nas convivas do dia-a-dia, nem por isso não exista o rigor. Fausto não é um de meus personagens, e pra ser sincero eu não o conheço, já ouvi falar que em alguma peça de teatro exista um personagem de mesmo nome, mas esse que aqui coloco e citei dias destes em uma conversa com Capitu é uma analogia que fiz com um interprete da exaustão, ou seja, do oitavo dia da criação, ou seja, do cansaço desnecessário, ou ainda, do desvalor do oficio.
Muitas vezes quando não estamos satisfeitos com alguma coisa, a melhor maneira para que ela seja pelo menos aceitável é ter argumentação, quando nem a argumentação nos convence, o melhor é saber inovar, por isso adaptei esse termo no meu vocabulário, para que Capitu o adapte em seu também e que assim possamos ser um pouco mais entendidos, pois não gosto dessas invenções para nos tornar peixe fora d’água. Quando for dirigir sua atenção, que dirija com argumentação, não venha com teorias neolíticas. As vezes me irrita tentar tornar compreensível minha insatisfação e desgosto e não me vejo incapaz diante das aceitações.
O mesmo nome é o de Régis, e pra não ser vitima da minha própria invenção terminológica, vou ser breve e sucinto, descrevo Régis como o motorista de Fausto, que cabe na história uma interpretação suas idas e vindas.
A distração nos entretém, não é necessário um evento assim tão mirabolante, nem um cenário extravagante e histórias muito complexas. Alguns personagens são cativos de nossa simpatia e nos faz buscar suas figurinhas e confiança. Prefiro me fazer discreto e aceitável. Não quero interpretações dos que me esqueçam em um canto qualquer da casa nem que me carreguem debaixo dos braços.

45. As pernas     

Também sentia ciúmes das pernas de Capitu, mais que seus braços nesse período. Elas me diziam por onde andava e como se sentia. As pernas britânicas de um Australopytrecos. As pernas, não as asas. As coisas geralmente que nos convem são mais difíceis de serem julgadas que as não nos convem, acho que isso faz parte do conjunto.
As pernas são tão despercebidas às vezes, que nem as notamos, acho que nos lembra das angustias dos rasgos de infância que nos prendiam aquelas caretas todas que aparecem de repente do nada tentando se comunicar com a gente, ou tentando que nós nos comunicamos. Pensando melhor, com o tempo elas vão se adaptando com agente e vez por outra nem elas notam nossa presença. Mas as pernas nem sempre medem as ocasiões e tudo que ficou pra trás.

46. Todos

Venho ao tema como a cirurgiã do advogado, ou como o propagandista de penitenciária; o psicólogo do comunicador ou do esportista, que conhece todo mundo e ninguém conhece eles. Fazer entender que fucinho de porco não é tomada é diferente de que redemoinho não faz vendaval. Professar uma teoria é adquirir experiência. Colocar um pedestal para as desilusões de um não me toque e depois um venha a nós é acreditar que a terra é redonda, que seu calor ferve por dentro e que seus extremos são geleiras espaciais.
A Terra nos quer como quem nos quer bem, sua natureza nos poe próximos como o Sol que nos visita todo dia. Não existe quem me faça entender que alguma coisa vale mais do que o amor. Que o que nos aflige é passageiro é que vale a pena acreditar. Tudo é denso, como nossa hipocrisia, nosso não saber pensar o mundo. Deixar pra trás a selvageria é os dentes que aparecem por não precisar de razões mais. Se existe guerra, ela está nas perguntas que não fazemos a nós mesmos durante a vida.

47. Separando, separando

Separar é tão delicado que dá medo. Melhor dividir; sem espaço pra decifrar as razões de uma noite sem carinho. Perto demais para tamanha pretensão de uma menina, uma moça.  Separar é um pouco não querer mais. É o prazer em conhecer. A satisfação de não poder mais viver sem, de queixas; de pouco casos, de reclamações de um jantar e do querer mais. Separar é provar vinho fino, de bom conhecedor, que prova sem enrolar a língua. É o querer fugir sem dizer até mais, nem nunca mais, voltar atrás e pedir mais. Separar é mais. É sempre mais; até não o mais suportar.  

48. Ainda

O mesmo conceito de Paraguaçu, confesso, sofreu alterações com o tempo, mas não criei critérios para desmerecer algumas mudanças. As mudanças primordiais regionais, locais, está subscrita na memória. Queiramos que tudo seja dessa maneira e isso se fará. É como a palavra; Deus criou a palavra, e tudo se fez. Ainda insisto em convencer que as mudanças não merecem muita consideração, nem a velocidade com que querem implantar. Desfrutar da paisagem é apreciado pela maioria de gosto bom e sem pretensões desmerecidas. Ao menos que não se queira sentar na janela, coisa que acho muito pouco provável; Sentar na janela e dar tchauzinhos de sinta minha falta por favor. Não; repito. Ainda requer muita analise para precipitadas conclusões de que nem se buscou saber o que é, porque é, donde vem e como chegou. É lento já disse e repito e ainda torno a reforçar; o ainda falta pouco.
Não foi Maomé quem transportou a montanha, foi sua fé. O que isso nos ensina ainda é relevante, por mais que não seja perfeito, o ainda é relevante e relativo. Seu esforço não seria suficiente para transportar a montanha sozinho, para isso, também precisou de devotos, por mais que suas qualidades de bom servidor e exausto trabalhador não se confirmem, o ainda é Maomé que recusa por devoção.
O ainda é curioso, e suas criticas valem anotações que valem para encontrar Capitu, ainda que ela esteja nesse instante tentando maneiras para ainda se tornar entendida. Nem começou a se explicar e já podia se notar sua falta; é assim que acontece quando nos acostumamos com certas expressões, por mais que ela se torne repetitiva, continua sendo nossa inspiração e motivo de tudo o que realmente somos.
Quando deixei Capitu na rodoviária, partindo para Paraguaçu, senti que no fundo iria sentir minha falta. Passei toda a viagem pensando em Paraguaçu, em Capitu e que o ainda nos faltava.